Um Hackaton Organizado pelo Apoema Hub Busca Contribuir para o Desenvolvimento Sustentável da Região Baseado no Conceito de Service-as-a-capital. Já Ouviu Falar?
Desenvolver um polo de inovação na região amazônica, a partir de Manaus, para ajudar a resolver dores como a capacitação empreendedora e a retenção de talentos, sempre tendo em mente a própria sustentabilidade e o desenvolvimento econômico regional, foi o que fez o Apoema Hub abraçar o desafio de olhar para a Amazônia como celeiro de ideias inovadoras nos campos da Bioeconomia e da Logística.
“Entendemos ser um polo importante para ser trabalhado e organizado, como vem acontecendo em Florianópolis e já começa a acontecer também no Rio de Janeiro”, explica Tatiana Fioratti, cofundador e CEO do Apoema.
A tese inicial é aportar capital intelectual e capital semente para a maturação de projetos que priorizem a economia local. Além dos desafios normalmente inerentes ao ato de empreender e inovar, uma dificuldade adicional na Amazônia está ligada à economia extrativista: o valor agregado dos produtos dificilmente permanece na região. O desenvolvimento tecnológico, muito atrelado a recursos de P&D, e à cadeia de logística local, atualmente formada com trajetos de pequenas escalas, grandes distâncias e escassa infraestrutura, impacta negativamente o desenvolvimento da bioeconomia local.
“Lá se vende insumo não beneficiado. E aí, sem agregar valor, você deixa um montão de dinheiro na mesa. Tem um exemplo que me marcou muito esses dias. Uma das 11 principais plantas medicinais da região só foi encontrada encapsulada, para facilitar a ingestão, nos Estados Unidos! Até um simples encapsulamento está sendo feito fora da região!”, comenta Tatiana.
Para estar mais próximo do ecossistema local — formado pela academia, por institutos, fundações e grandes empresas instaladas na Zona Franca —, promover networking e estabelecer alianças, o Apoema Hub buscou apoio da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam) e da Câmara de Comércio Brasil Canadá (CCBC) para a realização, durante todo o mês de maio, do Hackathon InovAmazônia.
“Temos ao redor deste evento o potencial de desenvolvimento de talentos e o fomento regional na conexão com a UEA e o Idesam, a possibilidade de capacitação executiva e do negócio através nas premiações oferecidas, além da troca de conhecimento com o Canadá por meio da CCBC, em especial em relação à proposta de eficiência da logística regional, vez que o Canadá também possui regiões remotos e de difícil acesso”, explica Tatiana.
O evento conta também com o apoio da Lumit, empresa associada da Fundação Dom Cabral e patrocinadora da premiação em capacitação executiva avaliada em R$20mil, do co-working ProOffice, do Casarão da Inovação Cassina, administrado pela Secretaria Municipal do Trabalho, Empreendedorismo e Inovação, e que disponibilizou o espaço para a fase preparatória, além da Microsoft e da Samsung, através da Ocean, iniciativa da empresa coreana que oferece capacitação tecnológica à comunidade e fomenta a criação de empresas de base tecnológica.
Na última semana foi realizada a primeira etapa classificatória, em Manaus, que contou com a participação de 71 empreendedores locais. Os três finalistas participarão agora de um sprint de aceleração de projeto, em São Paulo, na Câmara de Comércio Brasil Canadá (CCBC).
“A qualidade dos projetos nos surpreendeu, a diversidade dos participantes e até a disponibilidade de capital na região. Já houve várias abordagens no sentido de investir em outras startups participantes, além das finalistas. Então muita coisa paralela vai acontecendo ao mesmo tempo, né?”, explica Carlos Gothe, Managing Partner de Corporate e Startups no Apoema, e coordenador do hackaton. “Esperamos gerar mais conexões nessa segunda fase, em São Paulo”.
As três finalistas foram a NavegAM, que tem uma solução para “uberização” do transporte fluvial, buscando dar maior transparência e visibilidade para o vai e vem de cargas; a BioCert, que apresentou um projeto de certificação de traçabilidade de produtos florestais, usando Blockchain, atacando a alta informalidade da cadeia de suprimentos local; e a Logamz, que também apresentou uma solução para transporte de cargas, bidirecional.
Os fundadores do Apoema Hub vêm no hackaton uma forma de testar suas teses, calcadas em smart money. Em analogia ao modelo Capital-as-a-Service (CaaS), que permite infusões adicionais de capital de crescimento conforme necessário, trabalham com o conceito Service-as-a-Capital (SaaC), conectando parceiros de serviços, como Fase e NPK Venture Builder e o o VBSO Labs, a oportunidades de investimento de seu capital intelectual e semente em projetos com retorno exponencial.
Criado em agosto de 2021, o Apoema é a extensão do projeto VBSO Labs, do escritório VBSO Advogados, constantemente procurado por Fintechs e Agtechs na busca por soluções maduras, porém sem recursos para acessá-las.
“O VBSO entra neste projeto como um dos parceiros de valor e disponíveis no Hub. Nosso objetivo é aportar capacidade em nossas startups, através de smart money, fazendo inserções cirúrgicas naquilo que é necessário para atingirem maiores resultados e atrair capital”, afirma Tatiana.
A ideia é alinhar o prestador de serviço altamente especializado, essencial para a maturação do negócio, porém de custo elevado, ao interesse de crescimento econômico-financeiro da startup. Atender a demanda por conhecimento em estruturação de fintechs, agtechs, healthtechs, em soluções digitais, jurídicas, de modelagem de negócios e financeira, teses de investimento, além de acesso a profissionais c-level no modelo “as a service”.
“Nos posicionamos como investidores que levam ao pé-da-letra a entrega de capital intelectual e capital semente, aportando serviços em troca de equity. Um modelo que também vem chamando a atenção de gestoras de fundos e family offices, que têm nos buscado para parcerias de aceleração por entenderem que somos também somos capital, e não apenas meio ou consequência do capital”, completa.
Entre as startups aceleradas pelo hub estão a tokenizadora Ligi, a belga Credix (atuando em blockchain no mercado de DeFi), a fintech Conta Black e, mais recentemente, a fintech Sofi, que acaba de receber um aporte de US$ 168 mil de investidores da Anjos do Brasil, e mais US$ 44 mil de investidores de um club deal formado pelo Apoema.
O nome do hub, Apoema, é uma expressão tupi-guarani que significa “aquele que enxerga longe”. “Modéstia à parte, achamos que esse é o olhar do Apoema, Hub né? Nossa missõ é encurtar caminhos, encontrar melhores trilhas, acelerar de fato os negócios ainda na fase de ideação, como artesãos, né? Como se nós fossemos grandes pajés”, explica Tatiana. “Temos que encontrar o equilíbrio entre erros e acertos, entre o sofisticado e o MVP. Não tem bola de cristal gente. Tem suor e sinapses!!”
Na opinião de Tatiana, o Apoema Hub ajuda as startups a fugirem das caixinhas para melhorar a atração de investimento: “o venture capital, por exemplo, criou definições financeiras onde a empresa tem que se encaixar (e não o contrário). Seed, pre-seed, series, private placemente, IPO – métricas financeiras para cada uma destas etapas e ponto”, diz ela. “Às vezes precisamos de uma venture builder para construir outras pontes: uma parceria estratégica, um M&A ou até mesmo estruturar o crescimento orgânico por um tempo para melhorar valuation. Entregar equity é caro, gente, melhor fazer isto com apoio!” Reportagem publicada pelo The Shift em 17 de maio de 2022, disponível neste link.